A vida corre que nem o serpentear de um rio, que elimina a sede e com a força do seu regadio alivia a fome das gentes. Em Angola, hoje, mais do que nunca, pela banalização dos órgãos de soberania e da vida humana, não é possível viver com o sonho de ter o olhar postado no horizonte.
Por William Tonet
A força de uma liderança, se verdadeiramente comprometida com o bem comum, é capaz, em nome da ética e da moral, ressuscitar do seu interior, energias positivas, capazes de colocar o cidadão, no centro do orçamento, para lhe viabilizar, no mínimo, duas refeições ao dia.
O agir em sentido contrário, para beneficiar o capital, mostra o carácter perverso do líder.
Os 20 milhões de pobres nunca desesperaram tanto, nos últimos 5 anos, definhando na fome, miséria e desemprego, fruto de uma anacrónica política económica.
O mentor do neoliberalismo, Manuel Júnior não se coíbe de escarrar na desgraça do cidadão, inaugurando, com champanhe Moet, regado ao chão, quando uma garrafa daria para alimentar mais de 12 famílias/dias.
Escarrar na cara do cidadão faminto, com a inauguração de uma milionária e ineficiente “kastradinha”, elevada de betão, na Samba, com cerca de 500 metros, ao absurdo custo de mais de 32 milhões de dólares, que beneficiaram as contas dos engenheiros da corrupção.
Esta e outras obras, no pós-Lourenço, serão, severamente, escrutinadas, pela futura Procuradoria-Geral da República, em processos onde o Titular do Poder Executivo e o ministro de Estado, esgrimirão argumentos, para justificar a opção de deixar o povo na fome e miséria, ante uma obra sem eficácia rodoviária.
É preciso denunciar tanto desvario financeiro, na lógica da ladroagem de colarinho vermelho, que leva, noutra esquina, o banco BCI, 30 anos no sistema, 250 agências, com valor de mercado a rondar mais de 280 milhões de dólares a ser doado (vendido?) a um amigalhaço: Grupo Carrinho, pela módica pechincha de 25 milhões de dólares…
Isto é governação transparente e comprometida com a cidadania ou é satanismo?
Neste reino, com tanta bestialidade nos procedimentos administrativos e legais, onde a injustiça é lei, até o diabo vê lulas…
Nesta senda, mais do que uma união da oposição consciente e patriótica, clamando por alternância de poder político, urge uma convergência de objectivos da sociedade civil, integrada por intelectuais, patriotas, desempregados, desmobilizados, pensionistas, taxistas, zungueiras, vendedores ambulantes, professores, médicos, enfermeiros, operários, camponeses, para num renovado Amplo Movimento de Cidadãos, conclamarem um “projecto país” convergente nos propósitos de órgãos de soberania fortes, independentes e republicanos.
É preciso enterrar, para sempre, a partidocracia, a ditadura nociva e perniciosa, intolerante ao diálogo, alojada desde 1975, no poder.
Se os bispos na sua magistratura religiosa, com um “exército” de padres e crentes, espalhados por todos pedaços de chão, não conseguem demover a mente do mais alto magistrado do país, resta a cada cidadão apelar pacificamente à força do seu voto reivindicativo, na urna ou na rua, baseado na sua micro-soberania.
BAJULAÇÃO MULTIPLICATIVA
É preciso dar um basta a tanta bajulação, principalmente a esta que estilhaça o sonho de cada um, enviando muitos milhões, esgravatar, para comer e sobreviver, nos contentores de lixo.
O cidadão não pode continuar impávido e sereno a assistir à destruição dos pilares culturais dos nossos povos, nem à invasão silenciosa de estrangeiros especuladores, exploradores e neocolonialistas.
O silêncio da maioria, no lugar do grito de revolta, contra o exército bélico da minoria, torna a todos cúmplices das atrocidades do regime.
Na Lunda-Norte, Kafunfu, 30 de Janeiro de 2021, houve um genocídio, agentes policiais atiraram contra manifestantes desarmados, quando a Constituição proíbe a pena de morte. Luanda, Benguela, Huambo, Huíla, Cabinda, Zaire, principais bolsas eleitorais e as outras, como foi distante das suas barbas, não se indignaram. Ciente deste feito; divisão e covardia, entre os cidadãos de bem, a procissão assassina e o cortejo de mortes continuam a desfilar.
É muito ódio e raiva, indisfarçável do João contra José, a macular todo um país que regrediu à era das cavernas.
Os bajuladores fazem, diante da fome e miséria dos 20 milhões de pobres, um coro de elogios, muitos inqualificáveis, adornando o chefe de atributos, nunca antes escrutinados.
As empresas fecham que nem quitetas e os magistrados judiciais e do Ministério Público, aprovaram uma lei perversa, para dividirem com os ladrões e corruptos o dinheiro e bens delapidados (roubados) ao erário público. Um nojento festim!
Não havendo jantares grátis e Jaguares de borla, os magistrados logo curaram de subverter as normas jurídico-constitucionais, para blindar com supra-poderes, o chefe, enquanto garante das abjectas mordomias.
A mais alta magistratura do país está carente de alguém com mente conciliadora, espírito de união e avesso às armas e leis injustas.
O país precisa de estabilidade e não vaidades umbilicais.